'Tentativa de golpe esquisita e bárbara', 'temor de fuga': o julgamento de Bolsonaro na imprensa internacional
01/09/2025
(Foto: Reprodução) Trama golpista: Os episódios que levaram o julgamento de Bolsonaro
A imprensa internacional está repercutindo o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que começa na terça-feira (2). O caso será analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que julga a tentativa de golpe de Estado após a derrota eleitoral de 2022.
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Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar, será julgado junto a outros sete réus, apontados como os principais integrantes da suposta organização que tentou aplicar o golpe. A sentença deve sair até o dia 12 de setembro.
A imprensa internacional tem feito um retrospecto da situação de Bolsonaro e relembrou a tentativa de interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no processo. Além disso, as atuações do ministro Alexandre de Moraes e do próprio STF também foram questionadas.
A Economist definiu o julgamento como inédito e afirmou que o Brasil está oferecendo uma lição de democracia aos Estados Unidos. A revista também classificou a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2003 como "esquisita e bárbara".
O New York Times questionou se o STF está defendendo a democracia ou ultrapassando limites, e apontou que a pressão de Trump só aumentou a determinação do governo brasileiro.
A Bloomberg mostrou divisões na família Bolsonaro e avaliou que as tarifas de Trump, celebradas por Eduardo, acabaram fortalecendo Lula.
O Guardian destacou a prisão domiciliar e a vigilância 24 horas sobre Bolsonaro, após a descoberta de um rascunho de pedido de asilo à Argentina.
O Le Monde também relatou a classificação de Bolsonaro como “risco de fuga” e registrou a reação de Lula, que chamou a articulação de Eduardo de “uma das piores traições” do país.
Confira mais detalhes abaixo.
The Economist
A Economist publicou três reportagens sobre o julgamento de Jair Bolsonaro. A mais recente classifica a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 como "esquisita e bárbara", descrevendo o clima de festa nos acampamentos em frente ao quartel de Brasília.
"Na primeira semana de janeiro de 2023, centenas de barracas [estavam] dispostas desordenadamente do lado de fora do prédio. Estaria acontecendo algum tipo de festival? O acampamento estava repleto de barracas servindo cerveja, costelas grelhadas e tigelas de arroz com carne salgada, conhecido como arroz carreteiro."
Em sua reportagem de capa da semana anterior, a revista afirmou que o Brasil dá uma lição de democracia aos Estados Unidos, ao comparar o caso à tentativa de Donald Trump de se manter no poder após a derrota em 2020.
"Os dois países parecem estar trocando de lugar. Os EUA estão se tornando mais corruptos, protecionistas e autoritários", diz a reportagem. "Em contraste, mesmo com o governo Trump punindo o Brasil por processar Bolsonaro, o próprio país está determinado a salvaguardar e fortalecer sua democracia."
Reportagem da Economist fala sobre julgamento de Bolsonaro
Reprodução
Em outro texto, a revista descreveu o julgamento como um marco histórico, afirmando que esta será a primeira vez que o Brasil levará um ex-presidente a julgamento por tramar um golpe. A reportagem também citou a tentativa de Trump de intervir com tarifas, sanções e cancelamento de vistos.
Segundo a publicação, Eduardo Bolsonaro se mudou para os EUA para fazer lobby junto a aliados do presidente americano contra Alexandre de Moraes. Para a revista, as pressões externas não funcionaram e acabaram impulsionando a aprovação de Lula.
A Economist também discutiu o papel do STF, apontando o debate sobre se a corte está apenas defendendo a democracia ou interferindo em excesso na política.
The New York Times
Reportagem do New York Times sobre o julgamento de Bolsonaro
Reprodução
O New York Times destacou que o Brasil está fazendo algo que os Estados Unidos não conseguiram: levar um ex-presidente a julgamento por tentar se manter no poder após perder uma eleição.
Nesta segunda-feira (1º), o jornal americano dá destaque para as medidas de restrição de Bolsonaro, citando a preocupação das autoridades com uma possível tentativa de fuga do ex-presidente.
"Agora, as autoridades brasileiras se mobilizaram para apertar ainda mais as rédeas sobre o ex-líder, em meio a crescentes preocupações de que ele possa tentar fugir, de acordo com um alto funcionário da polícia que falou anonimamente sobre o tema. Na semana passada, policiais à paisana estavam posicionados do lado de fora do condomínio fechado, monitorando a entrada do complexo. Então, no sábado, Alexandre de Moraes, o ministro do Supremo Tribunal Federal responsável pelo caso, decidiu permitir que a polícia se posicionasse ao redor da casa de Bolsonaro, embora tenha se recusado a deixá-los entrar [na mansão]."
O jornal, no entanto, levantou dúvidas sobre o papel do STF. A análise questiona se a Corte ampliou demais os próprios poderes ao autorizar o ministro Alexandre de Moraes a conduzir investigações, ou se apenas está reagindo a uma ameaça autoritária.
"O juiz Moraes ordenou batidas policiais, censurou contas online, bloqueou redes sociais e, em alguns casos, prendeu pessoas sem julgamento", diz o texto.
A reportagem também citou a carta enviada por Donald Trump a Lula. No documento, o ex-presidente dos EUA pediu o fim do processo contra Bolsonaro e chamou o caso de “caça às bruxas”.
Segundo o jornal, no entanto, a pressão de Trump parece ter reforçado a determinação do governo brasileiro e do STF em seguir adiante.
Bloomberg
Reportagem da Bloomberg destaca tensão na família Bolsonaro antes de julgamento
Reprodução
A Bloomberg publicou uma reportagem destacando divisões dentro da família Bolsonaro diante da pressão internacional.
Segundo a agência, Eduardo Bolsonaro considerou uma vitória pessoal o anúncio de Donald Trump de tarifas de 50% contra o Brasil, acreditando ter convencido a Casa Branca a agir em favor do pai. No entanto, o próprio ex-presidente classificou a atitude do filho como “imaturo”.
"Há menos de uma década, a ascensão meteórica do patriarca à presidência do Brasil criou uma dinastia política moderna com o potencial de remodelar o país por gerações. Mas agora, o clã, antes unido, está cedendo à pressão", diz o texto.
A Bloomberg avaliou que as exigências de Trump foram “mais maldição do que bênção” para a família. Segundo a análise, a estratégia acabou tendo efeito contrário, já que muitos brasileiros passaram a enxergar os Bolsonaro mais preocupados em “salvar a própria pele”.
Para a agência, as tarifas acabaram fortalecendo Lula, que se beneficiou politicamente ao adotar um discurso nacionalista e viu sua popularidade crescer.
The Guardian
The Guardian noticia monitoramento de Bolsonaro
Reprodução
O Guardian informou que Bolsonaro foi colocado sob vigilância policial constante por risco de fuga, poucos dias antes do início do julgamento. A reportagem cita que a decisão de Moraes veio após a descoberta de um rascunho de pedido de asilo à Argentina.
O jornal lembrou ainda que Bolsonaro já cumpria prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica e disse que o ex-presidente tem grandes chances de ser condenado.
"Embora Bolsonaro negue as acusações, muitos especialistas jurídicos argumentam que as evidências contra ele tornam a condenação e uma sentença severa quase certas."
A publicação também relatou que Eduardo Bolsonaro comemorou as tarifas de Trump contra o Brasil como uma forma de retaliação ao julgamento.
Le Monde
Le Monde cita risco de fuga de Bolsonaro
Reprodução
O Le Monde também destacou que Bolsonaro foi classificado como “risco de fuga” e passou a ser monitorado 24 horas por dia. O jornal mencionou que, em caso de condenação, o ex-presidente pode enfrentar uma longa pena de prisão.
"Bolsonaro alega que seu julgamento é uma tentativa do Judiciário brasileiro, em conluio com o governo Lula, de impedi-lo de retornar às eleições de 2026", diz o texto.
A reportagem também citou a decisão dos EUA de revogar o visto do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e relembrou uma afirmação de Trump, que chamou o julgamento de “caça às bruxas”.
O jornal francês disse ainda que Lula acusou os EUA de interferência e criticou a atuação de Eduardo Bolsonaro nos bastidores, dizendo que a ação do deputado representa “uma das piores traições que o país sofreu”.
Infográfico mostra o calendário de julgamento da tentativa de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder
Arte/g1
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