Vice-presidente da Venezuela oferece aos EUA transição de governo sem Maduro, diz jornal
16/10/2025
(Foto: Reprodução) Delcy Rodriguez, ao lado de Nicolás Maduro, durante protestos a favor do regime chavista na Venezuela em janeiro de 2019
Luis Robayo/AFP
A vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, ofereceu aos Estados Unidos dois planos que preveem uma transição de governo no país sem a presença de Nicolás Maduro. As informações foram reveladas pelo jornal Miami Herald nesta quinta-feira (16).
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As propostas foram apresentadas no contexto da escalada de tensões entre os EUA e a Venezuela. Na quarta-feira (15), o presidente Donald Trump afirmou ter autorizado operações secretas da CIA em território venezuelano e disse estar estudando ataques terrestres contra cartéis do país.
Segundo o Miami Herald, as propostas de transição de governo foram encabeçadas pela vice-presidente e pelo irmão dela, Jorge Rodríguez, atual presidente da Assembleia Nacional da Venezuela.
As tratativas foram feitas com a Casa Branca por intermédio do Catar, com o aval de Maduro, de acordo com o jornal. A vice-presidente nega que tenha comandado planos para uma troca de governo.
A primeira proposta foi apresentada em abril deste ano, quatro meses antes de os EUA enviarem navios militares para perto da costa da Venezuela. Conforme a reportagem, o plano previa a renúncia de Maduro e o acesso do governo americano ao setor de petróleo e mineração venezuelano.
Ainda segundo a proposta, Maduro poderia permanecer na Venezuela e receberia garantias de segurança. Delcy assumiria o poder e manteria o “madurismo”, ao mesmo tempo que organizaria uma transição política pacífica. Enquanto isso, os EUA retirariam as acusações criminais contra o líder venezuelano.
O plano de abril foi rejeitado pela Casa Branca, segundo o jornal. À época, o secretário de Estado, Marco Rubio, teria indicado que um acordo que não previsse a mudança total de regime seria inviável.
Em setembro, Delcy apresentou a segunda proposta. Desta vez, ela ofereceu um governo de transição liderado por ela e Miguel Rodríguez Torres — chavista crítico a Maduro que está exilado na Espanha. Nesse cenário, o atual presidente buscaria exílio no Catar ou na Turquia.
Segundo o Miami Herald, o plano também inclui nomes de membros da oposição venezuelana na transição de governo. María Corina Machado, principal liderança opositora e vencedora do Prêmio Nobel da Paz, foi excluída da proposta.
Fontes ouvidas pelo jornal afirmaram que a segunda proposta também foi rejeitada. Uma autoridade da Casa Branca disse à reportagem que os EUA desconfiam que o plano manteria estruturas criminosas do governo Maduro “sob um novo disfarce”.
Vale lembrar que o governo Trump acusa Maduro de liderar o Cartel de los Soles, organização que, segundo pesquisadores, não existe oficialmente como grupo estruturado.
Especialistas afirmam que o chamado Cartel de los Soles é, na verdade, uma “rede de redes” que facilita e lucra com o tráfico internacional de drogas.
Há indícios de que Maduro seja um dos principais beneficiários do esquema, que também contaria com a participação de militares e autoridades do governo venezuelano.
Neste mês, o “New York Times” reportou que Maduro também ofereceu a Trump petróleo e minerais venezuelanos para tentar reverter a crise. A oferta foi rejeitada, e os Estados Unidos fecharam a porta diplomática para a Venezuela.
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Operações da CIA
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Na quarta-feira, o presidente Donald Trump disse ter autorizado operações da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) na Venezuela.
No mesmo dia, mais cedo, o jornal The New York Times afirmou que as ações autorizadas pela CIA podem incluir “operações letais” e outras iniciativas da inteligência americana no Caribe. Com isso, os alvos poderiam ser Nicolás Maduro e integrantes do governo venezuelano.
Trump disse que autorizou operações secretas da CIA na Venezuela porque o país tem enviado drogas e criminosos para os Estados Unidos. Ao ser perguntado se agentes de inteligência teriam autoridade para eliminar o presidente venezuelano, ele preferiu não responder.
Maduro rebateu Trump horas depois e criticou o que chamou de “golpes de Estado da CIA”. O presidente venezuelano afirmou que a população rejeita qualquer tentativa de intervenção no país.
“Chega de golpe da CIA. Não à mudança de regime, que tanto nos lembra das guerras eternas e fracassadas no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e assim por diante”, afirmou.
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela classificou como "belicistas" as falas de Trump sobre o país. O governo afirmou ainda que os norte-americanos estão adotando políticas de "agressão, ameaça e assédio".
"É evidente que tais manobras buscam legitimar uma operação de 'mudança de regime' com o objetivo final de se apropriar dos recursos petrolíferos venezuelanos", diz a nota.
Operações no Caribe
EUA bombardearam barco em área próxima da costa da Venezuela
Governo dos EUA
Desde setembro, os Estados Unidos vêm bombardeando barcos que, segundo o governo, pertencem a organizações narcoterroristas envolvidas no transporte de drogas para o território norte-americano.
O bombardeio mais recente foi autorizado na terça-feira, quando militares atingiram um barco em águas internacionais próximas à costa da Venezuela. Seis pessoas morreram, segundo Trump.
"A inteligência confirmou que a embarcação estava traficando narcóticos, estava associada a redes ilícitas de narcoterrorismo e transitava por uma rota conhecida de organização terrorista", publicou o presidente em uma rede social.
Esses tipos de operações têm sido alvo de críticas de entidades internacionais. A Human Rights Watch afirmou que os bombardeios violam a lei internacional por se tratar de "execuções extrajudiciais ilegais".
O tema também foi discutido na semana passada no Conselho de Segurança da ONU, que levantou preocupações sobre a execução de civis sem julgamento, além da possibilidade de uma escalada militar na região.
Já o governo da Venezuela pediu para que a comunidade internacional investigue os ataques, afirmando que as vítimas — que os EUA alegam ser narcotraficantes — eram apenas pescadores.
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